Do respeito ao espaço dos animais. 2i31r

Que de algumas décadas para cá houve uma fantástica evolução na conscientização ambiental da população, não há a menor dúvida. No entanto, nossa verdadeira cultura ambiental precisa avançar ainda mais, principalmente entre os políticos e fazedores de leis, que são os que mais precisam evoluir na direção de uma postura verdadeiramente ecológica que garanta nosso futuro.

Citamos outro dia o exemplo das pessoas que, a bordo de um barco, filmaram uma raríssima cena de três sussuaranas ou pumas atravessando a nado o rio Palmital, entre ville e São Francisco do Sul. Gosto do termo indígena sussuarana, apesar de o nome puma ter sido o mais popularizado. Se fosse há 30 ou mais anos, talvez seriam três sussuaranas sumariamente mortas. Com a consciência ambiental dos dias de hoje, foram três sussuaranas apenas filmadas.

Com mais um pouco de evolução na conscientização ambiental das pessoas, veremos, num futuro próximo, a mesma cena filmada, porém, mantida uma distância respeitável entre o barco com as pessoas e os três felinos, evitando estressá-los demais com uma excessiva aproximação. Isso significa respeito ao espaço dos animais.

Lembro da primeira vez que a Acaprena realizou uma excursão ao Pantanal Matogrossense, em 1984. Ante o avistamento dos primeiros imponentes cervos-do-pantanal e do primeiro tamanduá-bandeira, já no início da rodovia Transpantaneira, um verdadeiro “frenesi ecológico” se apossou de todos, diante daquelas cenas até então inusitadas para a maioria dos participantes. Se o ônibus da empresa Volkmann fosse uma canoa, ele certamente teria virado, ante o peso de todos que se atiravam para as janelas do lado em que o bicho aparecia!

Éramos todos ambientalistas-ecologistas, incluindo dois ex-caçadores entre os membros do grupo, que agora trocavam para sempre as espingardas pelas máquinas fotográficas. Uma enorme evolução, sem dúvida! Não demorou e todos queriam melhorar os ângulos das fotos, descendo do ônibus para tentar se aproximar mais dos bichos. Logo, porém, percebemos que, no afã da aproximação excessiva, estávamos, com isso, perturbando a paz, o sossego, o ritmo e a atividade dos animais. As aves logo voavam, se afastando. Jacarés que estavam se aquecendo ao sol atiravam-se de volta às águas. O mesmo faziam as capivaras e tantos outros bichos.

Aprendemos, então, uma lição, seguida de uma regra logo adotada por todos e sempre obedecida nas excursões da Acaprena: se o bicho ergue a cabeça, como que despertando o alerta ante a aproximação daqueles estranhos “bichos vestidos de roupa”, é sinal de que avançamos o sinal, ou seja, começou a aproximação excessiva. A ordem, então, era dar uns os para trás e tentar obter uma boa foto dali mesmo — não tão próxima, mas respeitando o sossego do animal. Felizmente, uma teleobjetiva na câmera, mesmo simples, já compensava o distanciamento, como fazem os fotógrafos que sabem respeitar o espaço dos animais.

Por falar em fotografias, foto também tem ética. Quando você, caro e preclaro leitor, vir uma belíssima foto ou vídeo de revoada de centenas de aves, desconfie: pode ser uma revoada de fuga, de desrespeito ao espaço daquelas aves, que preferiram sair do ninhal diante da aproximação excessiva do(s) fotógrafo(s). Pior eram certos fotógrafos profissionais, que chegavam a soltar fogos de artifício para forçar a revoada e obter uma bela, porém nada ética, foto do bando de aves que eles queriam fotografar!

Que esse tipo de fotógrafo nada ético seja uma espécie extinta para sempre do planeta!

Como o assunto de hoje é respeito, a coluna lança aqui um questionamento sobre algo muito atual: até que ponto seria ético usar vocalização de diversas espécies de aves (ou outros bichos), algo que atualmente qualquer um pode baixar no seu celular, visando atrair aves para perto de si e, com isso, obter uma bela foto dos nossos amigos alados? Em casos isolados e fortuitos, tudo bem — seria um recurso, em princípio, válido. No entanto, em lugares que costumam receber grande frequência de observadores de aves, como fica?

Nada contra todos os valorosos observadores de aves que realizam registros fantásticos de nossa avifauna, que, diante dos malvados que usam desse mesmo artifício para cometer o odioso crime de matar, capturar, prender ou comercializar aves, uma inofensiva fotografia não significaria nada.

Coloque-se, porém, caro e preclaro leitor, no lugar do sabiá que tem o azar de habitar justo próximo a uma trilha muito frequentada por inocentes observadores de aves. Você gostaria de, todo santo dia, várias vezes por dia, de acordo com seu instinto, sair do sossego de seu cantinho e voar seguidas vezes para conferir, em vão, quem é seu colega ou intruso de seu território que está ali cantando? Ou, se você for uma sabiá fêmea e voa perdidamente apaixonada para perto de onde vem aquela irresistível canção de amor e descobre, repetidas vezes, que o tão sonhado amor de sua vida não a de um gravador na mão do mané (*) que te espera para um clic?

(*) concepção do sabiá fêmea.

Nesta segunda-feira, 5 de maio, é o dia em que a Acaprena completa 52 anos de fundação. O Baú Ambiental homenageia a saudosa ex-presidente dessa ONG ambientalista, a competente botânica Lúcia Sevegnani (à esquerda, de blusa branca, ao lado da amiga Êdela Bacca) que, no último dia 28/04, completou dez anos de partida desta vida, deixando uma lacuna impreenchível, principalmente no movimento ambiental. Foto Lauro Eduardo Bacca, na RPPN Chácara Edith, Brusque, em 2 de maio de 2009.


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Clube de Caça e Tiro XV de Novembro nasceu das mãos dos moradores da rua Sarmento: