Capa: Ponte ferroviária Aldo Pereira de Andrade e o Teatro Carlos Gomes – Blumenau – Início da década de 1960.

Laerte Silvio Tavares.

Há algum tempo temos “construído pontes” de todos os tamanhos e até promovido encontros inusitados. Também temos levado conhecimento e informação às pessoas que nasceram ou viveram e que também conheceram Blumenau e região em outros tempos e, no momento atual, se encontram em outras cidades, regiões ou mesmo em outros países.

Noutro dia recebemos a mensagem de um poeta-engenheiro – engenheiro construtor de versos, como ele mesmo se denomina – Laerte Silvio Tavares. Laerte conheceu, morou em Blumenau e, de onde reside atualmente, lembra-se, com saudade, dos tempos ados.

Escreveu assim:

Sou natural de Armação do Itapocoróy, vizinho do Paulo Hering, irmão do Cao que ajudou na instituição da Oktoberfest, junto com Antônio Pedro Nunes. Estudei no Pedro II e fui Diretor do Departamento de Relações Públicas da União Blumenauense de Estudantes em 1961/62, colega de Dalton dos Reis que tornou-se prefeito. Amo a tua cidade. Que legal que descobri teu espaço onde já sou mais um seguidor. Fiz homenagem a essa terra maravilhosa com um poema.” Laerte

Um pouco dessa história em Blumenau 454138

Fotografia mencionada por Laerte Tavares e de como é sua lembrança. Como Blumenau mudou! Como mudou a Alameda! Espaço urbano na medida certa e com bitola adequada. Também sentimos saudades desse tempo.
Laerte Silvio Tavares.

“Servi o Exército em 1960 – em Blumenau e participei da guarda ao local e atendimento aos vitimados com a enchente do referido ano, moradores da Alameda Rio Branco, na foto, inundada e onde depois aluguei um quarto de uma casa residencial, como estudante do científico no Colégio Pedro II. Apaixonado ainda por esta maravilhosa cidade e pelo seu rio que encanta e oprime, as saudades fizeram-me escrever um poema narrativo em décimas do cancioneiro português para homenagear ela, os amigos de então e a mim, do então, por que não… “

Silo Lírico, como é denominado no próprio blog em que publica suas poesias, escreveu um poema para Blumenau no qual, por meio de seus versos, narra um pouco de sua história no cenário e também do cenário histórico da cidade, anteriormente mencionado. Pertence à Academia Catarinense de Letras, onde ocupa a Cadeira 16.

Ilustramos suas palavras com fotografias que comunicam e complementam seu texto de maneira histórica.

Rio que Remete ao Reino do Reno u2y3o

Um rio reina igual o Reno E serpeando as cidades, Leva nas águas saudades Produzidas como aceno De algum europeu terreno Deixado nos fins dos mares Por busca de outros lugares Para a colonização Deste povo – o alemão Que deu ao rio novos ares. d1571

Blumenau – Final do Século XIX – junto ao porto fluvial.

Blumenau dos meus amores Do tempo de juventude Onde vivi como pude, Conhecendo novas flores, Novos perfumes e cores, Outros amigos e gente Parecida ou diferente, Mas em comunhão ao povo Que deu a este lugar novo, Ares do seu continente. 3h2w4b

Lindo Bairro do Garcia: Spitzkopf altaneiro… No Exército Brasileiro Foi o lugar que eu servia E contemplava a magia Desse bairro industrial Que tinha o belo caudal De um riacho ou ribeirão, Onde eu pescava, com a mão, Peixe cascudo pro caldo. Ah Rio Garcia! Teu saldo É a grande recordação. 2m2l2f

Num quarto, na Alameda Fui morar; arborizada Como se fosse uma estrada Em formato de vereda. Eu peço que Deus conceda Sua permanência assim, Feita a rua de um jardim Com flores no seu contorno, Lindas casas no entorno, De uma beleza sem fim. (Infelizmente não permaneceu assim) 334t49

Rua Quinze dos meus dias… Da Alameda em diante: Casa Meyer do elegante Bordado feito por vias Manuais, pelas porfias Das ditas prendas do lar De cultura milenar. Era a vitrine primeira Disposta de uma maneira Para se visualizar. 3a3r4m

Do outro lado se via O Bar Socher, singular Por ser mesclado, o lugar: Bar junto à confeitaria, Com a grande primazia Da stammtisch, famosa Mesa de encontro e da prosa Dos alemães mais antigos, Fregueses velhos e amigos À conversa prazerosa. 292y6d

A juventude presente No bar ou confeitaria Alternava a freguesia, Quer de produto ou de gente, Desde o strudel à aguardente, Chope, chá às senhorinhas, Às moças belas sozinhas… Rapazes buscando alguém À conversa ou ir além Nas coisas das entrelinhas… 5p615

Casa Peiter, em seguida Vinha e a Probst, à frente Com ferragens. De presente Havia a Casa Husadel, tida Típica alemã a dar vida E mais beleza à cidade, Pela notoriedade Dos detalhes em madeira Em uma varanda altaneira De certa sobriedade. 6vn67

Era limpíssima a rua Com vitrines elegantes Em que os seus habitantes, Onde o prédio em si recua, Limpavam cada um a sua Frente, e o leito da via A Prefeitura varria O pouco resto de lixo, Com o esmerado capricho Que na cidade existia. 2a3b2g

O quanto ali eei Com o meu amor pela mão… Por nossa religião A ter no ápice a lei De Deus do céu, Pai e Rei, Nós dois íamos a missa Das oito e pela preguiça, Caminhávamos devagar Nesta rua de se amar Por mérito e por justiça. 2o6z2e

A apoteose seria, Da missa dominical, Ao fim dela, o ritual De ir à Confeitaria Tönjes que tinha a magia Da beleza e requintada, Servia desde empada À apfelstrudel. Assim, Viena, Berna ou Berlim Era ali representada. 126r71

Ela estava situada, Feita linda flor-de-lis, Em frete à Igreja Matriz, Do lado oposto à entrada, ível e hasteada Qual bandeira da finesse. Depois de humilde prece Íamos ao extravagante: A mim, humilde estudante, À mais suprema benesse. 4i55m

Linda a casa! E diferente Como ambiente exemplar Desde o seu ponto, um lugar Às margens do rio corrente, Esse Reno com nascente No Vale do Itajaí, Talvegue que diz por si O nome do belo rio, Onde defronte, um desvio Deixava a sua marca ali. 6m6210

A ponte da Ponta Aguda, Vista da Tönjes, também Via o rio seguir além Nessa curva em que ele muda De percurso e faz sisuda Sua margem esquerda à frente, Por banco de areia rente À verde vegetação E a água em estagnação Feita um lago transparente. 423s6

A edificação tinha Dois níveis – um ao da rua E outro abaixo, com sua Adega e uma varandinha Ao nível do rio, na linha De um externo patamar Com um jardim a reinar Repleto de lírio e rosas E era das mais suntuosas, A vista, deste lugar. cw12

Nós sentávamos à mesa E vinha o proprietário, Sendo o dono e um operário Da magnífica empresa. De uma extrema gentileza, Ele anotava o pedido, Por fim, seria servido, Com guloseimas, o chá. Depois de fartados já, Púnhamos ao rio, o sentido. 615q3f

Lembro de um dia de estio, Mas visual não precário, Chegou o proprietário, A fazer-me um desafio: Compor uns versos ao rio, Por saber que eu escrevia. Eu aceitei com alegria Aquela incumbência a mim, Compus meus versos assim Como quem narra, não cria… 3q4a15

Rio Itajaí Açu v246u

Oh rio, vais em desalinho Como serpente sem fim, E tu desaguas em mim Lembranças do teu caminho 4t6d
Como este aqui pertinho Desta varanda, e assim, Do mar tu não és afim, A fim de seres sozinho. 111y4r
Tua solidão, respeito, A ser eterno em teu leito, Beijando uma e a outra banda 47334s
E foges delas, sem jeito, Mas na verdade, a efeito És o rio desta varanda. 6u656t
O Tönjes pegou os versos, Anexou a um jornal Preso às réguas de metal Na lombada, com diversos Folhetos juntos, dispersos Com notícias diferentes Nos idiomas vigentes: Português e alemão E dispôs sobre o balcão À leitura dos clientes. 4j4843
Mil, novecentos, sessenta. Faz muito tempo, mas lembro Ser de Blumenau um membro Qual vetor que representa, Em trajetória mais lenta, Número que é irreal E sempre muda ao final. A minha suposta nau Navega por Blumenau Com a saudade ancestral. 146j6u

Publicado por SILO LÍRICO – Poemas, Contos, Crônicas e Outras às 11h06 – 8 de março de 2016.

Um registro para a História 722z6i

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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