Capa: Uma das muitas edificações que estavam na paisagem do vale da Velha. Muitas não existem mais. Outras se encontram em estado de abandono e submetidas as consequências do indiscriminado uso do solo, sem um plano urbano devidamente estudado. 32i4p
O bairro da Velha já foi o bairro mais populoso da cidade de Blumenau, superado pelo bairro Itoupava Central, que nas duas últimas duas décadas mudou drasticamente e teve, de madeira célere, a mudança do perfil rural para o perfil urbano, somando mais de 38 mil habitantes. Neste estudo, será considerado o vale que abrange o antigo território da Velhapast, que é conhecido por diferentes nomes adequados a regiões deste vale, que são: Velha, Velha Central, Velha Grande, Água Verde e Água Branca. De acordo com dados da prefeitura de Blumenau – Setor da SEPLAN – bairros de Blumenau, uma projeção para 2010, a população atual desta região estudada é de 38.484 pessoas.
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- Velha – 15.373
- Velha Central – 18.779
- Velha Grande – 4.332
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Fonte: https://www.blumenau.sc.gov.br/s/seplan/perfil_bairros/bairro_velha.pdf
Tal número deve ser (muito) superior, se considerarmos as últimas mudanças na região, sob a batuta da istração pública e quase omissão da Câmara de Vereadores da cidade, nessa região/fiscalização.
Em 2012, começamos a estudar a região e fizemos vários alertas com base em uma análise espacial, levando em conta o cruzamento de dados e a projeção do grande elemento estrutural que seria inserido na região, ou seja, a presença da nova ponte do Badenfurt, que seria inaugurada junto ao “Trevo de Pomerode”, na BR-470 (que não tem trevo), e junto à foz do Ribeirão do Testo, no grande rio Itajaí-Açu.
Neste momento, nem vamos comentar sobre o local em que foi construída a ponte, uma das paisagens naturais mais completas, em termos de fauna e flora, e sem ocupação humana (até então). E em termos de meio ambiente, cheio de ilhas fluviais com mata nativa (embora já percebamos que ocorre desmatamento no local). Mas…
O impacto da ponte nova do Badenfurt foi tornar a antiga estrada para Indaial (estrada velha), projetada com 4 pistas largas e calçadas largas, um corredor de tráfego rápido nos bairros Salto Weissbach e Salto. Além disso, materializar um corredor de tráfego rápido também dentro do bairro bastante populoso de Blumenau – Velha – que já sofria com esse tipo de problema. Com isso, despertou-se a avidez do ramo imobiliário pelas terras anexas a esse corredor, que não recebera qualquer adequação para o novo uso e também para a comunidade.
Enquanto haja cidades no Vale do Itajaí tentando encontrar uma maneira de desviar o tráfego pesado do Centro da cidade, em Blumenau foi feito exatamente o contrário.

Lembramos que a região do vale da Velha (Velha Grande, Central e Velha), até então, tinha características de um bairro residencial, com a presença de pequeno comercio local; a partir de 1960, ou a contar com a presença de algumas indústrias esparsas. Não tinha a presença de edifícios com altos gabaritos, como estão sendo construídos atualmente.
O o principal ao bairro, a partir do Centro, era feito pelas ruas João Pessoa e Frei Estanislau Schaette em duas mãos, com muito poucas opções em outros locais. Ruas estreitas que surgiram respeitando a topografia do terreno, ainda no século XIX. Caminhos espremidos entre a montanha e o casario histórico, que tinha seus fundos voltados para a margem do rio.
Com a perspectiva do novo fluxo oriundo da “nova porta da cidade” – a ponte nova do bairro Badenfurt – surgiu o interesse dos “investidores imobiliários”, juntamente com toda a especulação comum ao mercado imobiliário voraz, na cidade de Blumenau. Nos últimos tempos ocorreram sucessivas mudanças no Plano Diretor, o qual já era muito adensado e desprovido de caminhos para escoamento do fluxo de tráfego. Ficou ainda pior.
Como tudo começou? A Velha 5p435b
O caminho colonial que deu origem às nucleações da Velha existe desde o início da história da Colônia Blumenau. Já lemos seu nome em muitos textos históricos, e até mesmo em narrativas com a presença do fundador da Colônia Blumenau em terras de sua propriedade, na região do Vale da Velha.


Oficialmente, na história de Blumenau, o bairro (da) Velha foi criado no dia 28 de abril de 1956, durante o governo de Frederico Guilherme Busch Júnior. Era uma área rural – história muito recente. A lei de criação foi a de nº. 717.
O nome “Velha” surgiu naturalmente, antes da fundação de Blumenau, quase como apelido e nunca foi trocado. Há algumas versões para esse “apelido”, mas nada confirmado de fato. O bairro surgiu no Vale da Velha, que também deságua no grande rio Itajaí-Açu e foi muito importante para a navegabilidade, irrigação e abastecimento das propriedades dos colonos assentados na região.
Atualmente, o Ribeirão da Velha se encontra bastante maltratado e com muitas construções de edifícios às suas margens, apesar da existência de lei federal que controla essa prática. Portanto, isso não poderia estar acontecendo. O Ribeirão da Velha é muito bonito, e poderia integrar um parque linear, tornando-se área de lazer e contemplação. Observe-se que o Ribeirão da Velha ficou fora de um dos poucos parques da cidade de Blumenau – o Ramiro Rüdiger.


Antes de Hermann Blumenau chegar à região da Colônia Blumenau, em 1850, residia na região do bairro da velha a família Silva Guimarães, desde 1844. Vendeu suas terras ao primeiro comerciante de terras e também fundador de Blumenau – Hermann Blumenau – em 1879.

Os Stutzers retornaram à Alemanha e escreveram alguns livros sobre a vida na Colônia Blumenau. Therese, esposa do pastor, escreveu alguns livros, conforme mencionado na publicação de 2010 – Blumenau. Uma obra sua é Marie Louise – Therese Stutzer.
O caminho de o primário – a estrada – era o mesmo que mais tarde deu lugar à estreita rodovia João Pessoa, caracterizando o desenho urbano colonial, no qual a estrada ficava na parte da frente da propriedade, cortada ou mesmo tendo a presença do ribeirão nos fundos, para seu próprio abastecimento e também ibilidade.



O desvio do fluxo intermunicipal/interestadual dentro do bairro (que deveria transitar fora da cidade), levando-se em consideração uma “nova porta da cidade” “acordou” a especulação imobiliária que, com algum “apoio” e aval público através de mudanças de legislação, principalmente a de ocupação do solo, permitiu a verticalização da área. Isto se iniciou muito antes da inauguração da ponte nova do Badenfurt, a qual era parte de um projeto antigo, da gestão do ex-prefeito João Paulo Kleinubing, igualmente equivocado, Projeto Blumenau 2050.



Desde 2012, quando a ponte nova do Badenfurt estava em obras, alertávamos para duas questões:
A ponte histórica coberta de Badenfurt dentro do canteiro de obras da nova ponte e não considerada no traçado do novo projeto (não teria sentido a alça que foi construída sob a ponte nova, se esta continuasse no local), e o novo fluxo de tráfego adicional “lançado” dentro do populoso vale, região da Velha e dentro das comunidades dos bairros Salto Weissbach e Salto, não tão problemático como a do primeiro bairro, já dotado de problemas de conflitos de tráfego e espaços urbanos.
Sem contar que o fluxo de tráfego novo é o de um tráfego pesado, externo, com perfil e características diferentes daquele, usual, dentro de uma zona residencial e com áreas de convívio.
Seu impacto “mata” qualquer pretensão de espaços de lazer e de pequenos comércios no local por onde a, a exemplo das grandes rodovias federais do país. Em determinados locais, ao longo do corredor não há local para estacionar ou mesmo parar o automóvel – o único contemplado com espaço no local com certa segurança. O espaço só permite a “agem” na velocidade de fluxo de tráfego rápido.
Nossos alertas no ano de 2012 – no momento da Construção da ponte nova do Badenfurt. p4y4f


Nosso texto compilado em 2012 sobre o assunto – há 13 anos: 4dr5f
Este projeto dos caminhos da nova ponte de Badenfurt precisam ser detalhados por uma equipe técnica interdisciplinar. Há outras opções, sob ponto de vista espacial, a partir de uma breve análise, que poderá ser melhor estudada e detalhada.

Ao observarmos algumas questões desta proposta sugerida no anteprojeto – é visível o surgimento de mais conflitos no trânsito local, nos Bairros da Água Verde e Velha – Bairros com características residenciais com um corredor de fluxo de tráfego rápido (não é possível). A Região tem alto adensamento e poderá, se persistir esta ideia, aumentar ainda mais este, através de um crescimento desordenado controlado pelo mercado imobiliário e sem o planejamento necessário.
Simultaneamente, está sendo desconsiderada uma via com caixa larga, sem toda a sua vocação explorada, contento na maioria de sua extensão, leste, 4 pistas – R. Bahia. Atualmente cheia de armadilhas, pois em determinadas posições, a via é deliberadamente “estrangulada”, ficando somente com duas pistas, outras duas são inutilizadas.
Quem deve fazer este detalhamento é uma equipe interdisciplinar com vários profissionais da área técnica (Geógrafos, geólogos, arquitetos urbanistas, engenheiros de tráfego, paisagista, sociólogo, historiador…), que já se encontram inserido no quadro dos funcionários públicos da Prefeitura, porém, isolados e não trabalhando simultaneamente no mesmo projeto e equipe. Está análise que fizemos, é bem básica e simples sem dados da área da geografia e com este já concluímos que teremos muito mais conflitos do que aqueles que já existem atualmente nas ruas dos Caçadores e João Pessoa e adjacentes em horário de pico.

Ao observarmos o novo fluxo criado a partir do funcionamento da nova ponte por uma malha que se desenvolveu de forma radial, como o é, na área central.
É a melhor alternativa? Os dois bairros mais adensados da cidade – Velha e Garcia, sem ligação entre si, cada um localizado em um “braço” da forma estrelas da malha urbana de Blumenau.
Isto é uma amostra de que um pequeníssimo levantamento, sem qualquer dado geográfico, geológico, é necessários para a elaboração de propostas e projetos.
A origem da cidade de Blumenau influenciou a formação de sua malha urbana e de seus caminhos quando estruturaram seus principais bairros.
No início da formação, a cidade se desenvolveu às margens do rio Itajaí Açu, que corta o município de oeste/leste, caminho que ligava, ao interior da Colônia. Seus afluentes correm em direções opostas, em vales estreitos e com grande declividade. Ao sul do Município além desta topografia característica, o solo é frágil e suscetível a desmoronamentos se tirada a camada da mata nativa – Mata Atlântica.
Na imagem feita a partir do Google Earth, é perceptível observar que a cidade se desenvolveu na forma estrelar, ou seja, se desenvolveu nos vales, em áreas parcialmente inundáveis, e posteriormente de maneira sistemática e espontânea, ocupou parcialmente as encostas, geralmente áreas de risco.
Também esta forma estrelar tem sua origem no primeiro plano de Blumenau, onde sua estrutura fundiária foi condicionada aos cursos de rios e ribeirões, para o abastecimento de águas para as residências, irrigação da plantação, geração de energia e ibilidade, através do transporte fluvial.
A dificuldade desta forma de malha estrelar são os fluxos do trânsito, que aparentemente necessitam ar pela área central, para que ocorra o deslocamento a partir de um dos braços da estrela para seguir até o outro.
Parte do fluxo, oriundo da BR 470, ará pelos Bairros da Água Verde, Vila Nova e parte do Bairro da Velha (Olhar mapa).
Já foi efetivado um projeto sobre o impacto na paisagem e nos espaços urbanos a partir do desvio deste fluxo de automóveis (de trânsito rápido)?
Queremos realmente levar mais fluxo de tráfego rápido para a área central de Blumenau?
Sempre é bom lembrar que um dos grandes erros e um dos principais motivos do estado de caos no trânsito de veículo automotores é a efetivação de medidas e intervenções locais, sem reflexões do impacto na região e no entorno desta região, na capacidade de escoamento das vias e com foco nos residentes do local e suas outras opções de locomoção – neste caso para a área central da cidade.
Outro enfoque: Temos conhecimento que os valores imobiliários ao longo das vias, por onde ará este “Novo” trânsito oriundo da nova ponte do Badenfurt, elevará os valores imobiliários. O papel da istração pública e da equipe de técnicos e interdisciplinar que planeja a cidade é imprescindível neste momento de mudanças na malha da cidade.
O momento é agora para coibir problemas, além dos que já existem.


Foram tomadas medidas paliativas para minimizar o que faz parte de um processo que pode não ter mais volta.
As ruas locais do bairro da Velha, das caminhadas, dos vizinhos de porta, tornaram-se parte de um corredor de fluxo de tráfego rápido, “matando” o comércio local, os espaços de convívio e do homem, fazendo o residente das edificações unifamiliares se mudar. A rua é uma rodovia de tráfego rápido agressivo ao pedestre – outrora um local residencial. A rua ou a ser um “corredor-dormitório” e de agem, sem espaços para estacionar e transitar com bicicletas ou a pé.
O casario pertencente ao patrimônio histórico que ainda não foi trocado por um edifício está ruindo, aguardando, deliberadamente, o momento de ser trocado.
O bairro da Velha está se tornando um tentáculo de rodovia de fluxo de tráfego rápido também dotada de conflitos, a BR-470 – com direção à área central de Blumenau – que deveria ser uma ilha de conforto e de tranquilidade, com espaços multiuso na escala do homem.
Imagens de vários períodos (data nas fotos) que comunicam 2z4527
Um Registro Para a História! 2s1l1x
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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